Logo antes da noite há o Crepúsculo. Existe uma euforia a respeito da série de Stephenie Meyer. O livro foi lançado em 2005 e esse ano já virou filme. Parece ser um caminho natural no mundo de hoje um best-seller virar filme.
Para não cruzar a linha do spoiler basta um curto parágrafo de resumo:
Isabella Swan é uma garota que troca sua mãe, Renneé, e a ensolarada Phoenix, Arizona, por seu pai, Charlie, e a nublada Forks, Washigtown. Lá ela se depara sendo uma micro celebridade na pequena cidade. Ela conhece Edward Cullen e sua família. Mais que isso ela cria a certeza de três coisas: Edward é um vampiro; existe uma parte nele que deseja o sangue dela; e ela está perdida e irrevogavelmente apaixonada pelo vampiro.
Em se tratando de um tema tão fascinante quanto vampiros é fácil entender o motivo de tamanha paixão, ainda mais num mundo tão lúgubre e apaixonado pela sombra quando o mundo atual. Existe uma certa política de briga contra a Luz...
O livro tem uma leitura fluida e fácil. Meyer inventou sua própria lenda a respeito dos vampiros... E isso é que torna a estória algo bem dela, não que isso seja propriamente um elogio.
A melhor qualidade de Meyer nesse volume é a ambientação. É fácil captar o enjôo de Isabella em relação a nublada e esverdeada Forks. As personagens não são as mais complexas do mundo e a opção de narrar em primeira pessoa por vezes parece um escapismo de Meyer.
Algo que pode aborrecer é o perfeccionisto inerente nos vampiros. Vampiros são criaturas medonhas que tem o desejo instintivo e sinistro por sangue. Compará-los aos anjos é quase uma afronta, mas se ela teve a “audácia” de citar o Gêneses, isso era o de menos.
A descrição de Edward Cullen são por vezes repetitivamente aborrecedoras. A perfeição com que ele faz tudo é mais do que subjetiva, é algo enervante. Talvez isso se deva a descrição apaixonada de Isabella.
O amor rebelde e um príncipe com a beleza dos anjos e rebeldia de motoqueiros, deve ser irresistível para as garotas, mas pode tornar a estória um pouco açucarada demais. O inerente perigo de relacionar-se com um vampiro deve conter o excitante perigo que toda garota quer sentir para apimentar o relacionamento. A gélida pele de Edward, pode ser uma obscura menção a necrofilia, mas não vamos supor isso de Meyer. Já deve ter ficado claro que Meyer tem um gênero e uma faixa etária bem clara como público alvo...
A aparente falta de fraquezas dos vampiros pode ser um idealismo que Meyer quis dar a seu controverso mocinho, mas para aqueles que apreciam a lenda mais original, pode haver falta de queimaduras de sol, ou aversão a prata. Colocar os humanos tão a mercê dos vampiros é de um sadismo ou masoquismo peculiar.
O azar e a inabilidade motora de “Bella” é tão irritante e, para alguns, tão apaixonante quanto as características de Susan Mayer de Desperate Housewives. O comportamento dela é o infantil comportamento de uma paixonite. A narração em primeira pessoa e essa identificação com a fraqueza e mediocridade humana talvez encante muito as leitoras, identificando-se com elas. O sonho básico de toda adolescente é se apaixonar, se for uma sujeito perfeito em tudo que faz e tão bonito quanto a autora descreve elas não se sentiriam acuadas nem se fosse um vampiro.
Esse amor a um alienígena é talvez muito parecido com o que Lois Lane sente com Kal-El, enfatizando que Lane ama o Superman... O caso é que o Superman vem do céu, é alimentado pelo Sol, e não bebe sangue... Tornar os vampiros concepções do “Homem de Aço” é uma opção que parece agradar, mas não tira a sinistra necessidade de beber sangue...
Anne Rice é conhecida por ter tornado os vampiros figuras góticas, sedutoras, mas os vampiros de Meyer não são nada lúgubres, são meramente invencíveis, insuperáveis. Essa falta de um calcanhar de Aquiles pode ser enervante. Cruzar a linha e se apaixonar por uma criatura sedenta de sangue, inumana, é fraco e ao mesmo tempo ousado. Os vampiros podem ter sido conhecidos como criaturas sedutoras, mas a diretriz em voga de os fazer realmente objeto de desejo e não um torpe fascínio é a parte mais assustadora de toda a estória.
Vampiros sem fraquezas são chatos enervantes.
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