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2008-08-10

O Vigilante

Ser a prova de balas ajuda quando se enfrenta gangster, milícias africanas, e todo tipo de idiota que usa armas. Dred se metera em mais tiroteios do que podia contar. As balas ricocheteavam nele, sua pele era invulnerável, sua força imensa.

Essa invulnerabilidade lhe dera uma placidez muito grande, mas nem ser a prova de balas ajuda quando se entra num lugar daqueles. Bordel era um nome muito elegante para aquela devassidão. Dred podia ver nos olhos das garotas, eram todas garotas, não mais que dezesseis anos, nenhuma delas: sofrimento.

O lugar poderia ter cheiro de luxúria para algum dos freqüentadores, mas para Dred cheirava a medo. Dor, era o que estava nos olhos das garotas, porta após porta, em cada corredor. Cada uma ocupava um quarto. As instalação não eram sujas, nem velhas, mas as garotas estavam descabeladas, tristes, e assustadas.

Medo, era a outra coisa que elas pareciam ter aos montes. Dred resolveu largar o segurança no meio do corredor. Considerou que aquilo fosse acalmar mais as garotas. Era um russo gigantesco, tinha mais de dois metros e mais de duzentos quilos. Fez a bobagem de tentar parar Dred. Dred, era um tipo bem normal, altura mediana, talvez nem isso, magro, cabeludo, sempre com roupas grossas e surradas. Os dedos do segurança se espatifaram contra o crânio de Dred, o ombro saiu do lugar tamanha foi a força que empregara para machucar o cabeludo.

Lutar contra Dred era uma auto-flagelação para os que não eram da mesma estirpe dele. Dred meramente espalmou a mão contra um peito do segurança. O grandalhão caiu imediatamente sem ar, Dred o pegou por uma perna e adentrou o lugar arrastando-o com a facilidade de uma garotinha arrastando uma boneca de pano.

As garotas não pareciam saber como reagir ao estranho. Alguma delas estavam acorrentadas, mas poucas iam até a porta enquanto ele cruzava os corredores. Portas era meramente figurativo, não havia portas, apenas os pórticos vazios, dando nenhuma privacidade para as garotas e total acesso aos clientes do lupanar.

Não deixe a raiva te tomar – ele repetiu para si mesmo, como num mantra.

Dred teve certeza de que era ali, afinal ali havia uma porta. A porta de partiu em duas quando Dred puxou, a metade da direita com a maçaneta ele jogou no corredor a da esquerda ficou presa por uma das dobradiças mas totalmente fora de posição.

Dred entrou sem dizer nada, já havia dois sujeitos com escopetas apontadas para ele.

– Não atirem – ele pediu inutilmente.

Algumas balas batem em Dred e se esmagam contra a pele dele, mas outras, dependendo do ângulo, ricocheteiam e podem ferir o atacante, ou mesmo alguém aleatoriamente. Varias coisa já tinham marcas de bala quando os sujeitos pararam abobalhados.

– Onde ele está? – Dred perguntou na esperança de não ter tanto trabalho.

Um dos sujeitos avançou contra ele usando a escopeta como clava. Dred não era exatamente rápido, mas os músculos dele dariam uma vantagem injusta contra o melhor velocista do mundo. O atacante não teve como perceber a mudança de cenário: de atacante para abatido.

O outro largou a arma e confessou que o chefão saiu pelos fundos. Dred derrubou-o no momento que ouviu um carro cantando pneus. Ele evadiu pelo corredor e correu até a janela mais próxima. Socou-a antes de pular e os pedaços e vidro, metal e concreto se espalharam pelo ar. Era um andar de altura até o chão, mas ele caiu como um saco de batatas.

Um carro ia de encontro a ele a toda e ainda acelerou pela rua estreita. Dred não seria morto atropelado. Ele seria arremessado longe, por cima do carro, mas estaria vivo para pegar o desgraçado depois. Dred não queria aquele trabalho. Ele socou o chão, enterrando o antebraço todo, até o cotovelo através do asfalto, concreto, e o que quer que houvesse abaixo. Dred se preparou para o impacto torcendo para ser suficiente.

De certo modo foi como atingir um poste, ou um hidrante. O carro bateu, estancou, teve toda a frente deformada, em favor da sobrevivência dos passageiros, as rodas traseiras chegaram a levantar, mas o carro não virou. Dred produziu uma vala de um metro com o antebraço, e foi arremessado a alguns metros. Ele levantou imediatamente e chegou ao carro.

Olhando através das janelas viu todos feridos, tontos.

– Deviam usar cinto de segurança – ele avisou enquanto amassava as frestas das portas para que eles não conseguissem sair.


– Eu já vi muitas gaiolas – o policial comentou – Mas eles estão ficando cada vez mais criativos.

Os bombeiros usavam uma prensa hidráulica para libertar os ganguesters. O promotor chegou e ouviu o comentário do policial.

– Acha graça de estarem fazendo teu trabalho? – o promotor perguntou enervado.

– Não trabalho com metalurgia – o policial respondeu e saiu de perto.

O detetive responsável pela cena chegou e disse ao promotor:

– Deixaram recados...

– Para quem? – o promotor perguntou.

– Para o senhor – o detetive entregou um pedaço de papel ensacado.

“Não pise na bola, Hag, se deixar esses sairem impunes eu vou atrás de você”.

– E o outro – o promotor perguntou, exigindo.

“Você é o próximo, Maloni. P.S.: Se isso não for ao ar, Hag, eu vou atrás de você”.

– Convoque uma coletiva de imprensa – o promotor Hag sacou o celular, pediu pela discagem rápida e disparou assim que atenderam.

– Tem um monte de meninas lá dentro – o detetive apontou para o prédio.

– Eu sei... – Hag deixou escapar.


– Hag é podre – a voz de Scot não assustou Dred.

Eles estavam no topo de um prédio observando a cena. Scot levitando meio metro acima do piso.

– Eles vão se safar – Scot anunciou com indiferença.

– Talvez – Dred desafiou.

– O modo como você faz as coisas, Dred – Scot não parecia satisfeito com a aparição do outro – O que faz em minha cidade?

– É exatamente o modo que faço as coisas que nos diferencia, Scot – Dred apontou para a saída do prédio.

As meninas estavam sendo retiradas dali. Enroladas em cobertores, algumas escondendo o rosto.

– Eu não ligo para cidades, super-vilões, essa babaquice – Dred alfinetou – Eu fiz por elas...

– Eu não posso saber de tudo... – Scot rebateu – Nem você sabe.

– Talvez devesse sujar mais as mãos em meio aos que realmente precisam – Dred criticou.

– Você não está livre das coisas que enfrentamos, Dred – Scot replicou – Por mais que se esconda nos desertos, nas savanas, nas favelas, e selvas desse mundo... Todos enfrentamos super-vílões... Todos somos discípulos dele... Todos temos cicatrizes de quando arriscamos realmente nossas vidas...

– Sei que somos – Dred respondeu dando as costas e indo embora – Mas nem todas as cicatrizes são marcas sobre nossas peles invulneráveis.

Um comentário:

Hugo Marques disse...

De todos os teus textos que eu já li esse foi um dos que mais me prendeu a atenção especialmente o modo como você representou o Dred. Gostei mesmo!!! Espero mais histórias dele xD

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