Normalmente eu não conto como os nomes de minhas personagens me ocorrem... Algumas vezes é uma brincadeira, algumas vezes é algo que me marca... Por vezes é um estalo, tão inesperado que chega a ser indescritível... Dred é um abreviação para Dresden... Seráfine é a feminização de Serafim, tal qual os anjos, dando sexo a eles... Arthur é uma constante, homenagem ao único e eterno rei...
Uma personagem tem de ter o nome que o defina. Magos têm o nome de Harry... Não por causa do Potter, mas por causa do Houdini. As vezes gasto meses, mesmo anos, antes de batizar uma personagem com um nome que me ocorreu... Sim, eles ocorrem antes das personagens que os carregam.
Fico me perguntando que personagem merecia o nome de Nadia. Nadia Elena Comăneci não é só o nome de uma campeã olímpica, ela é um marco na ginástica olímpica, no esporte em geral e nos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Como vocês bem devem saber, ela foi a primeira ginasta a ganhar o chamado “perfect ten” (“dez perfeito”) num aparelho, numa competição olímpica. Foi nas barras assimétricas, na competição por equipes, representando a Romênia, nos Jogos Olímpicos de Verão de Montreal, em 1976.
O que é de se espantar é que Nadia realizou seu primeiro “perfect ten” para a competição por equipe, na qual a Romênia tirou apenas o segundo lugar ficando com a medalha de prata. Nadia ganhou três medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze em Montreal, chegou a ganhar duas medalhas de outro e uma de prata na olimíada seguinte, 1980 em Moscou.
A Federação Mundial de Ginástica Artísticas impôs algumas regras novas ao longos dos anos. Hoje uma competidora olímpica tem de ter dezesseis anos para participar dos jogos. Eles também mudaram o sistema de pontuação. O “perfect ten” desapareceu em favor de uma pontuação que possa estabelecer recordes olímpicos como outros esportes. Hoje, quanto mais, melhor... Mas essas modificações no lugar de evitar um mito (na verdade serviram para parar com os problemas que os dez estavam gerando), esculpiram em Carrara, o que já estava nas páginas da história: Nadia é uma campeã olímpica insuperável. As notas de Nadia podem ser superadas, foram repetidas, pode ter menos medalhas que outras, e outros... Mas Nadia será a mais jovem ginasta a ganhar um ouro olímpico, e sempre será a primeira a obter o extinto “perfect ten” nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, algo que não pode sequer ser igualado, que jamais será superado.
Então eu me pergunto: que personagem mereceria um nome tão poderoso quanto Nadia? Nadia, uma garota que aos quatorze anos entrou para a história, que realizou sua façanha olímpica sete vezes na mesma edição dos jogos. Uma garota tão jovem que chorava por sua boneca, tão esplêndida que definiu o mínimo e o máximo da perfeição para uma modalidade olímpica, uma marca tão surpreendente que surpreendeu até o painel eletrônico, dotado apenas de uma casa inteira. A quem dar um nome tão valioso quanto alguém que deve compartilhar o firmamento junto com os lendários heróis gregos... Mito grego que ela carregava em seu próprio nome Elena, tal qual a Helena que de tão bela, fez a Grécia se unir em guerra contra a poderosa Tróia. Guerra que forjou e apresentou heróis. Aqueles que originaram o sentido de ser Olímpico. Não consigo pensar em nada menos do que uma super-heroína...
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