– A senhora aproveitou a estadia? – o gerente de relações públicas pergunta.
– Como é mesmo seu nome, mesmo? – a mulher pergunta.
– Tod – ele responde.
– Duvido muito – ela responde.
Tod estranha por demais a ganhadora. Pra começo de conversa ele esperava um homem. É claro que ele sabia que tinha sido um homem que tinha ganho a rifa da cena com a atriz da empresa. O prêmio ter sido revendido para uma mulher era por demais estranho.
A mulher também não parecia muito do tipo que estivesse interessada em se expor para as câmeras numa seqüência pornográfica. A loira estava vestida bem séria, usava uns óculos de aro fino muito bonitos. Ela era esguia e bem apessoada, mas com uma expressão de insatisfação.
Tod podia esperar alguma atriz em busca da fama, mas não aquela mulher que parecia uma advogada... Aquela pensamento fez o sangue de Tod gelar.
– A madame está familiarizada com as limitações legais envolvidas?
– Sim, estou – ela respondeu como se comentasse sobre o tempo.
– A senhora conhece o senhor Austin? – o gerente perguntou pelo ganhador original.
– Sim – ela respondeu – É o presidente de nosso grupo...
– Qu.. Q... Que... Que grupo? – o gerente gaguejou.
– O Associação de Defesa e Manutenção da Liberdade de Expressão Americana – ela respondeu com o mesmo tom de comentarista meteorológica.
A coisa de formular a respeito do motivo dessa associação ter comprado tantos tickets e enviado uma mulher foi completamente mal interpretada pela mulher que perguntou:
– Querendo saber porque nosso presidente em pessoa não veio?
– Claro – Tod respondeu sem entender de onde ela tinha tirado isso.
– Sabe como é... – a mulher riu e piscou para Tod – A carne é fraca, vai que a moça aparecesse e ele não seguisse o plano...
– P... P... P... Pl... Pla... Pla... Plano? – Tod gaguejou novamente.
– Sim... – Ela respondeu finalmente animada – Nós vamos revolucionar! Criar um “statu quo” que permita as coisas irem muito mais além...
A mulher estava realmente animada e pegou uma pequena valise que trazia consigo. Tod perguntou tremendo o que era aquilo. A palavra apetrechos o assustou bastante.
– A nossa moça não gosta muito de apanhar – Tod explicou respirando fundo...
A mulher começou a rir abertamente... Tod riu também pensando que aquilo era algum tipo de brincadeira e a mulher não fazia parte de grupo algum.
– Eu não vou bater nela...
– Então é bom não ter nenhuma animal vivo ai dentro... – Tod comentou ainda temerário.
A mulher riu mais ainda. Tod não sabia se aquilo era um bom sinal, mas ficou um pouco mais aliviado.
– Onde está a a moça? – a mulher perguntou.
– Candy... Candy? – Tod chamou apressado – Candy!!!
A atriz entrou no recinto. Ela estava com a maquilagem incompleta e o cabelo ainda todo armado em bobinas de cabelo. Era bonita, com seios enormes, pernas longas, olhos azuis, loira, lábios carnudos, mãos e pés pequenos.
Candy mostrou toda sua capacidade interpretativa na expressão que formou ao ver uma mulher alí. A atriz apontou para a mulher e depois para si mesma. Tod confirmou com expressão de incompreensão. Candy deu de ombros e foi cumprimentar a mulher.
– Olá – ela falou mascando chiclete – Eu sou a Candy...
– Olá, Candy – a mulher respondeu – Eu sou Lucy.
– Duvido muito – Tod deixou escapar.
– E então, Lucy? – Candy perguntou irrelevando o que Tod dissera – O que você quer fazer comigo?
Lucy achou interessante que Candy mexia a cabeça enquanto falava. Candy era um estereótipo ambulante. Lucy ficou com vontade de perguntar como ela tinha chegado alí, mas notou que seria infrutífero.
– Nós vamos revolucionar! – Lucy respondeu com os olhos brilahndo.
– Você já falou pra ela da lei? – Candy perguntou alarmada para Tod.
– Fiquem calmos – Lucy disse animada – Deixem-me contar o plano.
– Por que não faz isso enquanto a maquiamos? – Tod disse indicando o camarim.
Ele fez uma mesura para que elas fossem na frente e puxou o celular.
– Temos um problema – ele disse de pronto quando a presidente da companhia atendeu.
Tod entrou no camarim e viu a mulher sentada numa cadeira ao lado de Candy. A maquiadora virou para Tod e perguntou por mímica quem era a maluca.
– A ganhadora... – Tod apenas moveu os lábios.
– Então Tod – Lucy chamou – Pronto para entrar para a história?
– Ou ser processado? – Tod mais engoliu que falou.
Tod desabou numa poltrona atrás das cadeiras de maquilagem e ficou esperando pela bomba. A presidente da empresa, e todos os advogados que ela conseguisse arrumar estariam alí o mais breve possível.
– É o seguinte – Lucy disse enquanto começava a ser maquiada – A indústria de entretenimento adulto é a ultima fronteira, a ultima defesa, o marco final quando se trata de liberdade de expressão. Então...
Lucy fez um silêncio dramático que desolou Tod, intrigou a maquiadora e distraiu Candy.
– Essa promoção colocou vocês em foco – Lucy continuou sem notar a expressão de todos no ambiente – Foi uma campanha de efeito. Parabéns.
Lucy esperou algum comentário de Tod, mas como ele não conseguiu dizer nada ela continuou:
– Então vamos colocar em algo que está sob os holofotes algo que nunca vai poder ser esquecido. Algo que vai tornar esse filme único... Algo que vai fazer com que a sociedade trema! Algo que mostre que não há limites para a inventividade humana. Nem deve haver para a expressão do indivíduo.
Nisso entra a presidente da companhia ladeada por três advogados. Tod respirou aliviado e levantou elétrico.
– E então? – a presidente perguntou a Tod desprezando todos os demais presentes.
– Ela ainda não disse... – ele respondeu.
A recém-chegada lançou um olhar mordaz para Tod e se dirigiu a Lucy:
– Christinne Saint – ela se apresentou – Presidente da empresa.
– Lucy – a mulher saudou.
– Duvido muito – um dos advogados comentou para os outros.
– Você pode explicar quais são seus planos para a cena, Lucy? – a presidente perguntou.
– Claro! – Lucy respondeu animada – Estava justamente explicando isso nesse momento para Tod e Candy.
A maquiadora fez uma cara de “não liguem... eu não estou aqui mesmo...” e voltou ao trabalho. Depois de uma breve recapitulação Lucy chegou onde fora interrompida:
– Vamos fazer uma liturgia na cena! – Lucy comentou animada.
Os advogados e demais funcionários da empresa se olharam desconfiadamente. Por fim Christinne respirou fundo e perguntou:
– O que você quer dizer com isso?
– Nós vamos rezar e encenar uma cerimônia religiosa.
– E aí vocês transam? – um dos advogados perguntou.
– Não – Lucy respondeu surpresa.
O desentendimento dos empregados aumentou ainda mais. Notando o clima Lucy explicou:
– Apenas isso... Oração e encenação. E se vocês aceitarem, algumas filmagens de liturgias reais...
– Desculpe-me?! – Christinne disse – Nada de sexo?
– Não... – Lucy confirmou – Apenas encenação, liturgia e ensino religioso.
– Ninguém quer sua religião misturada com pornografia! – Candy comentou.
– Exato! – Lucy parecia achar que tinha feito-se entender.
– Mas é um filme pornográfico! – um dos advogados comentou.
– E daí? – Lucy respondeu perguntando.
– Tem de ser erótico, mexer com a libido – Tod explicou o entendimento de todos os demais da sala.
– Prove que isso não é erótico para alguém! – Lucy desafiou.
Um silêncio se abateu sobre a sala. Os empregados estavam estranhamente constrangidos para uma empresa de pornografia.
– Eis a idéia da cena que bolamos – Lucy resolve continuar sua palestra – A nossa querida Candy, aqui. Vai estar dormindo... Ela sonha com a liturgia, as orações, etc, durante esse sonho ela fica excitada, geme, e por fim encena um orgasmo.
– Ela vai ter um orgasmo com uma cerimônia religiosa? – Christenne pergunta descrente.
– Exatamente!
Os advogados, Tod e Christinne se reuniram num círculo para discutir a situação.
– O que faremos? – Christinne pergunta.
– Eu não sei... – um dos advogados responde refletindo a falta de idéias dos colegas.
– Diz que para montar esse ambiente é complicado – outro sugere – Pra ganharmos tempo e vermos o que podemos fazer.
– Lucy – Christinne encara a mulher – Você sabe que essa sua cena demanda cenário, figurantes, etc. Isso leva tempo... Infelizmente não podemos gravá-la... Pelo menos não agora.
– Não se preocupe – Lucy diz animada – Nós já alugamos um templo e temos os figurantes. Basta gravar...
– Quando você pensava que trabalhar na indústria pornográfica ia te assegurar ter visto de tudo... – Tod comentou passando as mãos no rosto.
Um comentário:
Kramba e eu que achava que já tinha visto tudo na vida ^^ Adorei o texto, final surpreendente!!!
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