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2008-07-23

Grava essa!

– A senhora aproveitou a estadia? – o gerente de relações públicas pergunta.

– Como é mesmo seu nome, mesmo? – a mulher pergunta.

– Tod – ele responde.

– Duvido muito – ela responde.

Tod estranha por demais a ganhadora. Pra começo de conversa ele esperava um homem. É claro que ele sabia que tinha sido um homem que tinha ganho a rifa da cena com a atriz da empresa. O prêmio ter sido revendido para uma mulher era por demais estranho.

A mulher também não parecia muito do tipo que estivesse interessada em se expor para as câmeras numa seqüência pornográfica. A loira estava vestida bem séria, usava uns óculos de aro fino muito bonitos. Ela era esguia e bem apessoada, mas com uma expressão de insatisfação.

Tod podia esperar alguma atriz em busca da fama, mas não aquela mulher que parecia uma advogada... Aquela pensamento fez o sangue de Tod gelar.

– A madame está familiarizada com as limitações legais envolvidas?

– Sim, estou – ela respondeu como se comentasse sobre o tempo.

– A senhora conhece o senhor Austin? – o gerente perguntou pelo ganhador original.

– Sim – ela respondeu – É o presidente de nosso grupo...

– Qu.. Q... Que... Que grupo? – o gerente gaguejou.

– O Associação de Defesa e Manutenção da Liberdade de Expressão Americana – ela respondeu com o mesmo tom de comentarista meteorológica.

A coisa de formular a respeito do motivo dessa associação ter comprado tantos tickets e enviado uma mulher foi completamente mal interpretada pela mulher que perguntou:

– Querendo saber porque nosso presidente em pessoa não veio?

– Claro – Tod respondeu sem entender de onde ela tinha tirado isso.

– Sabe como é... – a mulher riu e piscou para Tod – A carne é fraca, vai que a moça aparecesse e ele não seguisse o plano...

– P... P... P... Pl... Pla... Pla... Plano? – Tod gaguejou novamente.

– Sim... – Ela respondeu finalmente animada – Nós vamos revolucionar! Criar um “statu quo” que permita as coisas irem muito mais além...

A mulher estava realmente animada e pegou uma pequena valise que trazia consigo. Tod perguntou tremendo o que era aquilo. A palavra apetrechos o assustou bastante.

– A nossa moça não gosta muito de apanhar – Tod explicou respirando fundo...

A mulher começou a rir abertamente... Tod riu também pensando que aquilo era algum tipo de brincadeira e a mulher não fazia parte de grupo algum.

– Eu não vou bater nela...

– Então é bom não ter nenhuma animal vivo ai dentro... – Tod comentou ainda temerário.

A mulher riu mais ainda. Tod não sabia se aquilo era um bom sinal, mas ficou um pouco mais aliviado.

– Onde está a a moça? – a mulher perguntou.

– Candy... Candy? – Tod chamou apressado – Candy!!!

A atriz entrou no recinto. Ela estava com a maquilagem incompleta e o cabelo ainda todo armado em bobinas de cabelo. Era bonita, com seios enormes, pernas longas, olhos azuis, loira, lábios carnudos, mãos e pés pequenos.

Candy mostrou toda sua capacidade interpretativa na expressão que formou ao ver uma mulher alí. A atriz apontou para a mulher e depois para si mesma. Tod confirmou com expressão de incompreensão. Candy deu de ombros e foi cumprimentar a mulher.

– Olá – ela falou mascando chiclete – Eu sou a Candy...

– Olá, Candy – a mulher respondeu – Eu sou Lucy.

– Duvido muito – Tod deixou escapar.

– E então, Lucy? – Candy perguntou irrelevando o que Tod dissera – O que você quer fazer comigo?

Lucy achou interessante que Candy mexia a cabeça enquanto falava. Candy era um estereótipo ambulante. Lucy ficou com vontade de perguntar como ela tinha chegado alí, mas notou que seria infrutífero.

– Nós vamos revolucionar! – Lucy respondeu com os olhos brilahndo.

– Você já falou pra ela da lei? – Candy perguntou alarmada para Tod.

– Fiquem calmos – Lucy disse animada – Deixem-me contar o plano.

– Por que não faz isso enquanto a maquiamos? – Tod disse indicando o camarim.

Ele fez uma mesura para que elas fossem na frente e puxou o celular.

– Temos um problema – ele disse de pronto quando a presidente da companhia atendeu.

Tod entrou no camarim e viu a mulher sentada numa cadeira ao lado de Candy. A maquiadora virou para Tod e perguntou por mímica quem era a maluca.

– A ganhadora... – Tod apenas moveu os lábios.

– Então Tod – Lucy chamou – Pronto para entrar para a história?

– Ou ser processado? – Tod mais engoliu que falou.

Tod desabou numa poltrona atrás das cadeiras de maquilagem e ficou esperando pela bomba. A presidente da empresa, e todos os advogados que ela conseguisse arrumar estariam alí o mais breve possível.

– É o seguinte – Lucy disse enquanto começava a ser maquiada – A indústria de entretenimento adulto é a ultima fronteira, a ultima defesa, o marco final quando se trata de liberdade de expressão. Então...

Lucy fez um silêncio dramático que desolou Tod, intrigou a maquiadora e distraiu Candy.

– Essa promoção colocou vocês em foco – Lucy continuou sem notar a expressão de todos no ambiente – Foi uma campanha de efeito. Parabéns.

Lucy esperou algum comentário de Tod, mas como ele não conseguiu dizer nada ela continuou:

– Então vamos colocar em algo que está sob os holofotes algo que nunca vai poder ser esquecido. Algo que vai tornar esse filme único... Algo que vai fazer com que a sociedade trema! Algo que mostre que não há limites para a inventividade humana. Nem deve haver para a expressão do indivíduo.

Nisso entra a presidente da companhia ladeada por três advogados. Tod respirou aliviado e levantou elétrico.

– E então? – a presidente perguntou a Tod desprezando todos os demais presentes.

– Ela ainda não disse... – ele respondeu.

A recém-chegada lançou um olhar mordaz para Tod e se dirigiu a Lucy:

– Christinne Saint – ela se apresentou – Presidente da empresa.

– Lucy – a mulher saudou.

– Duvido muito – um dos advogados comentou para os outros.

– Você pode explicar quais são seus planos para a cena, Lucy? – a presidente perguntou.

– Claro! – Lucy respondeu animada – Estava justamente explicando isso nesse momento para Tod e Candy.

A maquiadora fez uma cara de “não liguem... eu não estou aqui mesmo...” e voltou ao trabalho. Depois de uma breve recapitulação Lucy chegou onde fora interrompida:

– Vamos fazer uma liturgia na cena! – Lucy comentou animada.

Os advogados e demais funcionários da empresa se olharam desconfiadamente. Por fim Christinne respirou fundo e perguntou:

– O que você quer dizer com isso?

– Nós vamos rezar e encenar uma cerimônia religiosa.

– E aí vocês transam? – um dos advogados perguntou.

– Não – Lucy respondeu surpresa.

O desentendimento dos empregados aumentou ainda mais. Notando o clima Lucy explicou:

– Apenas isso... Oração e encenação. E se vocês aceitarem, algumas filmagens de liturgias reais...

– Desculpe-me?! – Christinne disse – Nada de sexo?

– Não... – Lucy confirmou – Apenas encenação, liturgia e ensino religioso.

– Ninguém quer sua religião misturada com pornografia! – Candy comentou.

– Exato! – Lucy parecia achar que tinha feito-se entender.

– Mas é um filme pornográfico! – um dos advogados comentou.

– E daí? – Lucy respondeu perguntando.

– Tem de ser erótico, mexer com a libido – Tod explicou o entendimento de todos os demais da sala.

– Prove que isso não é erótico para alguém! – Lucy desafiou.

Um silêncio se abateu sobre a sala. Os empregados estavam estranhamente constrangidos para uma empresa de pornografia.

– Eis a idéia da cena que bolamos – Lucy resolve continuar sua palestra – A nossa querida Candy, aqui. Vai estar dormindo... Ela sonha com a liturgia, as orações, etc, durante esse sonho ela fica excitada, geme, e por fim encena um orgasmo.

– Ela vai ter um orgasmo com uma cerimônia religiosa? – Christenne pergunta descrente.

– Exatamente!

Os advogados, Tod e Christinne se reuniram num círculo para discutir a situação.

– O que faremos? – Christinne pergunta.

– Eu não sei... – um dos advogados responde refletindo a falta de idéias dos colegas.

– Diz que para montar esse ambiente é complicado – outro sugere – Pra ganharmos tempo e vermos o que podemos fazer.

– Lucy – Christinne encara a mulher – Você sabe que essa sua cena demanda cenário, figurantes, etc. Isso leva tempo... Infelizmente não podemos gravá-la... Pelo menos não agora.

– Não se preocupe – Lucy diz animada – Nós já alugamos um templo e temos os figurantes. Basta gravar...

– Quando você pensava que trabalhar na indústria pornográfica ia te assegurar ter visto de tudo... – Tod comentou passando as mãos no rosto.

Um comentário:

Hugo Marques disse...

Kramba e eu que achava que já tinha visto tudo na vida ^^ Adorei o texto, final surpreendente!!!

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