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2009-07-06

Se arrependimento matasse


O que faz a vida ter sentido? Essa talvez seja a pergunta fundamental da existência. Pois é ela que nos mantém vivos. Talvez o medo também, mas isso é apenas não saber a resposta.
Será que há um sentido transcendental para a existência do ser humano. E se houver... A pessoa é obrigada a acatá-lo?
Existem mecanismos claros que infligem ao ser humano a existência. Eles passam desde os elementos legais até o simples princípio de que após a fecundação a vida segue em frente até chegar a morte.
Quais os motivos para viver? O que me obriga a viver? Um Deus onipotente que não impede os suicídios? Um organismo que não tem uma chave mental para desligar? Existem alternativas... Se Deus existe, seja ele, ela, ou eles quem for, ou forem, parece que é dado o direito de morrer, pois não é menos do que algo incontornável no presente, é simplesmente inevitável. Será que ser condenado a um suposto inferno é impedimento? Se o sujeito não quer viver ele vai e paga o preço. Se é reencarnar como uma barata, então é ser pisado por algum exterminador. O que importa é não continuar agora. É arriscar pelo que vem a seguir.
Por que a sociedade teme tanto os suicídios? Será que é tão dispendioso assim cuidar de um cadáver? O individuo se mata e pronto. A maior parte não ligaria a mínima para o que se faria com o cadáver deles. Será que ela teme uma onda de suicídios? Isso é realmente um grande problema? As pessoas que gostariam de viver continuariam vivas. A sociedade quer obrigar a pessoa a participar do sistema? Quer que ela devolva algo para a sociedade? E se o sujeito não está interessado não pode nem se matar?
Será que a sociedade teme o fim de sua cultura se as pessoas começarem a se matar? Se for assim é melhor observar que se os herdeiros dessa cultura não querem que ela sobreviva ela não vai.
Se a vida da pessoa não parece valer a pena por que continuar? Existe uma grande quantidade de pessoas que gosta de viver. Deixa quem quer viver. Sofrimento não é bom. Por que continuar? Sentença de Deus? Se ele é onipotente não vai ser assim que o sujeito vai escapar.
Será que haverá espaço para se arrepender? Depois? Haveria um inferno? Ou inferno seriam as outras pessoas? Não faz diferença. Toda essa parola para quê? Apenas para saber o que acontece se a pessoa simplesmente desiste.
O que ela deixa pra traz além do sofrimento: um mar de possibilidades. Existem histórias de acaso no mundo. Mas raramente alguém que não estava comprometido com algo consegue algo marcante. Não parece existir mágica.
Os planos são capazes de manter uma pessoa viva? Será que sonhar com um casamento perfeito é um bom plano? Poderia acontecer. Será que os livros que estão na sua cabeça e querem sair são suficientes? Será que aquele projeto de viajar o mundo? Ficar milionário? Ser presidente? Dominar o mundo?
A pessoa pode querer ler Shakespeare antes de morrer. Pode querer conhecer Paris. Pode querer deixar Paris. Pode querer se casar. Pode querer ter filhos. A pessoa pode simplesmente não querer deixar um cadáver sujo e uma poça de sangue para alguém limpar depois. Seja o quer for que impeça a pessoa de se matar é o suficiente para impedir. Quem se mata não acha nada disso significante, nem a promessa muito menos.
E se nada disso importar? Se os suicidas se importassem com isso eles não tentariam suicídio. Parece simplesmente não haver perspectivas. E a opção de apenas continuar tentando? Afinal o imutável o que realmente avaliável é apenas o passado. Não se pode ter arrependimento sobre o futuro.
Viver até concluir que a vida foi insatisfatória? Parece ser esse o real argumento. Você não tem como saber. Você vai despender uma vida de aflição e esforço para no fim dela avaliar que não valeu a pena se arrepender dela e morrer em paz. Em paz? Não parece realmente bom, mas pelo menos é socialmente aceitável. Morrer velho depois de uma vida vazia, ou pegar o vazio que tem no momento e deixar pra lá?
É um dentre alguns riscos. Desistir agora e não ter de construir os sonhos, mas com certeza não vê-los ruir. Encarar as conseqüências de se matar e o mundo não ser tão científico quanto os céticos acreditam. Leve em conta ainda o seguinte: Se for o inferno de sofrimento eterno ele é sem escapatória, e simplesmente ficar vivendo não garante a exclusão de uma vaga por lá – pelo menos é oq eu dizem. Se for reencarnação parece que a pessoa não lembra mesmo... O máximo que pode acontecer é ela não gostar novamente e desistir mais uma vez.
Se a pessoa chegou a conclusão que não quer existir quem deveria impedir. Deus? Os governos? A sociedade? Por que eles não deixam a pessoa simplesmente deixar de existir? Por que simplesmente não acatar essa mínima vontade e continuar lidando com quem quer?
Dizem que tem remédios que funcionam. Dizem que dopando o sujeito, colocando ele para conversar com ouvinte profissional tem escapatória. A questão é que parece valer a pena tentar... Afinal se depois disso o sujeito desistir de desistir não era tão importante assim desistir.

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