Todo mundo tem segredos... O grande problema é que algumas donas de casa avacalham... Desperate Housewives se encaixa na categoria das séries que eu detesto mas me envolvo com as personagens.
O envolvimento em questão é de algo que fica entre a raiva e o desprezo... Eu detesto boa parte das personagens por cada um de seus defeitos... Tão pouco do que há de bom no ser humano fica a mostra... A caracterização preferida foi a de um monte de gente falsa, invejosa, baixa, mentirosa, mesquinha...
Acho que cheguei a conclusão que Desperate Housewives é uma série machista... Apesar de alguns homens altamente cachorros, no geral o maior defeito deles é serem fracos... A trama é tão pernóstica, cheia de reviravoltas e mistérios que fica claro que tratar dela vai ser uma profusão de spoilers. Então no meu confortável lugar de escritor vou tratar das personagens. Vou me ater as da primeira temporada no geral, embora uma da quarta mereça uma atenção fabulosa para o contexto da história.
Vou começar pela que mais detesto: Susan. Toda mulher é maquinadora, isso é fato. Todavia junte isso com uma dose profunda de falta de bom senso e azar. A doida é uma encrenqueira naturalmente. Nenhuma das mulheres dessa série parece ter consciência... Quando você escolhe fazer algo errado em proveito próprio está se tornando o vilão de qualquer estória. Susan é perita nisso... Mentir, e dar azar, mas sempre levando em conta o que tem de fazer para alcançar o que quer... Talvez eu esteja entregando um nível que não ficou claro para a maioria dos fãs da série...
Mary Alice morre no primeiro episódio, na verdade nos primeiros minutos do primeiro episódio... E se você considera isso um spoiler não sei como leu até aqui... Ela se torna a narradora da série. Se torna também a voz da literatura da série. Não, ela não cita Nitchze, nem Tostoi, nem mesmo King ou Rowling... Mas a abertura em cada episódio pode ser aproveitado como um pouco de crônica num mundo tão mais multimídia e menos literatura...
Bree é o estereótipo da dama auto-implodida. Uma pessoa tão preocupada com a aparência e a opinião alheia tem a família mais bizarra de todas... Não vou contar os motivos e eventos, mas ela com certeza é mais falsa que uma nota de quinze... (espero que o governo mantenha essa afirmação coerente por muito tempo... Velhos tempos das notas de vinte...) Se Susan não media esforços para ter o que queria, Bree não parece ter um pingo de consciência... Ela é capaz de confabular atrocidades, crimes, etc, apenas para manter seus interesses.
Edie é o tipo de solterona desesperada. Ela sabe que é quente (para usar uma metáfora razoável), mas não tem escrúpulos... Mas escrúpulos foram reservados para os homens da série. A loira com certeza vai entrar em crise muito cedo... Afinal é para ela que o tempo parece ser o maior inimigo...
Dizer que Gabrielle é mais uma personagem que não tem escrúpulos, que mente, que planeja a derrocada alheia é ficar repetitivo. Outra constante que se repete em Gabrielle é a questão dos segredos. Todas tem segredos, entre si e contra os demais. A maior parte dos segredos das pessoas é inofensivo... Ou assim parece... Não é exatamente o caso dessas donas de casa. Gabrielle tem um auto-conhecimento parecido com o de Edie: sabe que é bonita... E nas mãos de uma pessoa sem critério isso se torna terrível. Não dê asas a cobra...
Lynete é uma pessoa que tem uma das visões mais tortas a respeito do que é certo e do que é errado que já tive notícia... A capacidade de julgamento dela deve ter o tamanho de uma noz. Minha família em primeiro lugar? Claro, mesmo que tenha de confabular contra eles mesmos... Ainda bem que ela arruma uma adversária a altura... Uma garotinha de nove anos... A filha de seu marido Tom, Kayla... Pena que só na quarta temporada...
Kayla deve ser alguma argumentação de que todas as mulheres nascem do mesmo modo... Ela tem todos os defeitos das donas-de-casa. Ela é vingativa, mentirosa, esperta... Em suma, tem todas as características dos grandes vilões, mas acaba sendo apenas mais uma personagem de titulação indefinida... A filha de Tom é a pior perspectiva do mundo: não existe inocência... Se ela representa a capacidade feminina de se desenvolver rápido então as perspectivas são crônicas. Ela tem problemas... Mas a incoerência de julgamento de uma criança é um problema, para um adulto é o quê? Ela é assustadora. As adultas são revoltantes...
Os homens não são as melhores criaturas da Terra, mas eles são pintados com outros matizes nessa série. O maior defeito masculino é a fraqueza... É se render tão completamente a sedução das mulheres, é tentar protege-las. Tom trabalha com uma bomba relógio... Sua esposa é bruta, inteligente e descontrolada... Ele tem mais senso e ética do que a soma das mulheres da série. É um cara extremamente legal... É fraco o suficiente para ver esperança e aceitar as opiniões de sua mulher.
Mike é cara! Ele é o que as solteiras da parada querem... O fato mais complicado é ele ter segredos. Mas quem não tem? O passado de Mike depõe contra ele, mas ele é um dos caras mais legais da série. Tem objetivo, foco, boa vontade, é razoável numa quantidade substancial de coisas... E parece não querer repetir o passado... Parece querer mudar e ser melhor... Seu maior inimigo vai ser justamente a fraqueza... Ser fraco com quem gosta, ceder ao que não deveria... Talvez ele seja um dos homens que mais agride os limites do que é certo, mas ele não tem uma esposa para fazer isso por ele...
Rex... Bom... Rex tem segredos... Ninguém escapa disso. É incrível o que isso é a voga, o mote e o desenvolvimento de quase tudo na série. O grande problema é a importância. Numa série como Lost segredos são apenas um detalhe frente a mistérios tão impressionantes. O caso é que numa série que se atem a mediocridade humana (não por ser comum, mas olha para as personagens...) é claro que o mais longe que se chega para agradar o público é justamente esses segredos. Ser marido de Bree já é uma pena muito grande para Rex... Vai gostar de sofrer assim em outro lugar...
A conclusão? Se esse é um retrato da raça humana... Ela está perdida... Se a maioria das pessoas se importa mais com o próprio umbigo do que com fazer o que é certo então não vejo muitas esperanças... Talvez o problema seja que elas pensam que estão fazendo o certo... Que estão cuidando de suas famílias, que estão se preservando... Mas justamente a capacidade de sentir, aliada com a incapacidade de julgar o que é certo e o que é errado que cria os maiores vilões... Os famosos lordes das trevas da ficção fizeram escolhas duvidáveis, barganharam com o errado para obterem o que querem... Por isso fica muito difícil separar mocinhos de vilões nessa séria, mas se eu tivesse que dar um chute sobre quem seria o herói, não seria numa das mulheres... Talvez até desse, mas nesse caso não seria uma metáfora.
É de ficar se perguntando por que anda tão em voga personagens tão corruptos... Precisamos de pessoas que queiram ser heróis... Mas falo de heróis em outra oportunidade... Qual o grande problema de caracterizarmos personagens mais bonzinhos (não precisa ser nenhuma mocinha de romance piegas), mas alguém com mais senso de justiça, ética, que prefira dar o próprio sangue que oferecer o alheio... Dificilmente você vai encontrar esse tipo de elevação em Desperate Housewives, mas nem por isso elas vão deixar de tentar... O que deve se esperar mais ansiosamente é a crônica de fechamento da série... Espero que Mary Alice se supere... Mas as séries tendem a desonerar frente a renovações meramente lucrativas... Como disse o Quino: Ou eu matava a Mafalda, ou a Mafalda me matava. Pode parecer bobagem, mas isso é uma constante em Desperate Housewives... Interpretam muita coisa como: Matar ou morrer... A essa altura fica fácil saber o que elas decidem... Mas por aqui é fácil saber que elas são péssimas juízes...
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