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2008-05-29

Cinema Bom no Brasil é Furtado do sul

Outro dia li que fazer cinema no brasil fora do eixo Rio-São Paulo era coisa de maluco. Bom... O cara devia estar querendo dizer que fazer cinema no nordeste é fora de registro... É a mesma coisa que se amarrar a uma bomba e você não acha que vai ganhar 72 virgens com isso...

Mas tenho de discordar veementemente... E tristemente... Pois não discordo que chega a ser absurdo o que se faz aqui no Nordeste, mas que fora do eixo tem coisa boa... E muito boa. Sabe onde? No Rio Grande do Sul. Os cineastas de lá se deram conta de uma coisa: é possível fazer filme brasileiro, com limitação de filme brasileiro, com cara de filme brasileiro, e ser universalista. Estranho? Em praticamente todas as línguas que conheço.

Vamos levar em conta 3 filmes, dois da Casa de Cinema de Porto Alegre (na minha opinião salvação da lavoura cinematográfica desse país), e o outro Casa de Cultura de Poro Alegre. Mas como nada tem mágica, nem no mundo mágico do cinema... Eis que aparece a constante: Jorge Furtado. O cara não só é um dos fundadores da Casa de Cinema de Porto Alegre como premiado até no festival de Berlim com um curta-metragem. Mas a idéia não é fazer tietagem...

Foi uma descoberta interessante, saber que todos os filmes gaúchos que gostei (e os dois da casa de cinema) não se pareciam a toa. A marca do cara está lá...

“Houve uma vez dois verões” (2002) tem uma produção capenga... É sério. A fotografia é de dar dó... Pense numa câmera ruim... E o que ele tem de diferente de outros filmes pra ser bom? As idéias! O cara fala sobre a terra dele de um modo incrível! Acho uma das maiores mágicas do mundo pegar uma história universal e colocar no próprio quintal... Eu não vou antecipar uma conclusão, mas esse cara devia estar em Hollywood... Ele ia ficar rico!

As personagens tem tanta profundidade quanto se propõem que elas tenham. Eles são jovens, de realidades e visões diferentes, se envolvendo com tipos de relacionamentos diversos: amor, paixão, atração, amizade, companheirismo, interesse... Vale muito pela estória: mais do que uma paixonite aguda! E muito mais elaborado e legal que isso!

“O Homem que copiava” (2003) é um dos melhores filmes brasileiros que já vi. Mas vamos deixar ele pra depois, pra chegar em Hollywood. “Meu tio matou um cara” (2004) tem um coisa muito comum nos filmes de Furtado: juventude. Suas preocupações, problemas, e como boas estórias podem ser contadas através deles. Que bom que todo mundo pelo menos já foi jovem alguma vez: mais que se identificar com as personagens está a coisa simples e fundamental que é entendê-las.

Antes de voltar para os filmes de Furtado, vou falar de três grandes e premiados filmes brasileiros e que eles no fim das contas são variações do mesmo tema: nosso país é uma droga. “Central do Brasil” (1998), “Cidade de Deus” (2002), “Tropa de Elite” (2007) são ótimos filmes, não há como negar. Eles têm diversos prêmios e reconhecimentos para provar isso. O problema é que a constante aqui não é a genialidade, nem a universalidade. Fernanda Motenegro tirou leite de pedra (pena que Gwyneth Paltrow tirou a roupa em “Shaeskpare in Love” (1998) ). Cidade de Deus tem uma das melhores montagens do Cinema: não são as personagens que estão inseridas na estória, é a estória que está inserida nas personagens. Tropa de Elite foi simplesmente o melhor filme de ação de 2007.

O problema é que se prestarmos atenção eles sentam a mão no povo, na imagem e no povo brasileiro... Só faltaram os índios em Central do Brasil para aquilo parecer um faroeste de fim de mundo... O Brasil é tão continental que tem, é claro, áreas no Norte e Nordeste que parecem outro mundo, mas adotar esse foco é limitado demais. Cidade de Deus e Tropa de Elite sofrem de um mesmo mal: será que todo mundo no Brasil é bandido e boca suja. Não sei em que mente pervertida um torturador pode ser um herói, e tanto Zé Pequeno como Nascimento foram... Gente... O Brasil não é o Iraque... Por mais gente que morra de assassinato...

E o que o Homem que copiava tem de melhor que tudo isso? A constante de Furtado: universalismo em terras brasileiras. O Homem que copiava tem tudo que um filme precisa ter pra ser um grande sucesso: inteligência, personagens dignas de nota, atuações de qualidade, reviravoltas, a comédia humana, amor, piadas... Se você viu O Homem que Copiava sabe do que estou falando... Se não sabe corra para assistir.

É sério... Sabe onde eu quero chegar? Em Hollywood... Se um filme como O Homem que copiava fosse rodado em Los Angeles, com a produção de grandes estúdios, roteiristas menos limitados pela conjuntura de produção, esse filme seria um sucesso mundial. Ele seria tão legal como um filme como “Os Vigaristas” (2003) de Ridley Scott. É por isso que digo que Jorge Furtado é que seria O diretor brasileiro em Hollywood. Sem os grilhões da mediocridade brasileira ele faria um filme genial para ser assistido no mundo todo... Sem limitações tão bizarras quanto produções medíocres.

É isso que falta no cinema brasileiro: universalismo. A capacidade de se fazer entender no mundo todo. Por que ficar remoendo as mesmas mazelas de uma forma tão retumbante? Pode-se contar os problemas em pano de fundo, dando atenção a trama... Ao que há de mais globalizado e particular no mundo: o ser humano... E daí que esse ser humano seja brasileiro?

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