Por mais difícil que pareça destruir a estória de alguém é na verdade muito fácil. Já fiz isso centenas de vezes... Há uma arte em recontar estórias, mas o caso é que ela tem mais bagaço que essência.
Por isso não é difícil de entender como foi possível que um livro como Gossip Girl tenha desaparecido nas mãos do roteirista da série. O primeiro volume da série (“As delícias da fofoca”) desaparece e resume-se ao primeiro episódio. Por menor que seja a lauda, nenhum roteiro de duzentas páginas cabe em quarenta minutos de episódio. Não que o livro seja a mais nova maravilha da literatura, mas quem faz adolescente ler ou é gênio, ou fala em “adolescentês”. A segunda opção seguramente não é um elogio.
Talvez o fracasso tenha sido tentar adaptar as coisas. Por mais pontual que seja a história de Serena e seu retorno, em quarenta minutos não cabem nem a acidez da Gossip Girl original. As figuras de estilística da autora, como antecipação desaparecem ante a tentativa de tornar a história adolescente... Pasmem! A literatura é adolescente! Então qual a mágica que teve de ser operada para no lugar de transcrever os eventos do primeiro volume em alguns capítulos remodelar os eventos? Talvez seja uma superestima do público televisivo esperar a mesma compreensão de complexidade. Literatura é sempre pra quem tem algo mais na cabeça... O teor dos livros não cabe em censura televisiva quatorze anos – pelo menos na americana.
Não que os leitores de Gossip Girl sejam maduros ou precoces... São apenas leitores... O que por si só já um mérito frente ao público televisivo médio. Mas todo mundo merece uma segunda chance... E não é que o roteirista não descartou-a no segundo episódio.
Fica claro que é possível usar de antecipação de um modo cinematográfico sem recorrer a precognição... É claro que a Gossip Girl dele é meramente uma retardada no lugar da cobra peçonhenta original dos livros.
Gossip Girl representa dois lados de tudo que vai mal na mídia atual: adaptações estão virando clichês, e ninguém faz tão bem quanto o original; e que os adolescentes médio são uns imbecis. É fácil chatear os nerds com a Ficção Especulativa que eles adoram, mas o caso é que se eles conseguem ver além de efeitos especiais e da profundidade de pires que o telespectador médio consegue, então eles são metidos a besta. Todo nerd merece o buling que sofre...
Claro que a série merece um desempate... Se for pra fazer um prognóstico ela vai ficar tão tola quanto já é... Perder o teor do original e desbancar em uma típica série adolescente, com a vantagem de que tem alguns bons personagens e eventos provindos da literatura. Quase tudo merece ser adaptado, mas se a arte de recontar estórias não faz parte das habilidades do roteirista as consequências podem ser ruins... E olhe que a série televisiva Gossip Girl chegou a ser capa da New York Magazine... E que capa! Aos que aprovam tentem achar mais de um nível na estória impressa e depois desafio-os a ver com os mesmos olhos a série.
As personagens não são tão dignas de nota quanto valeriam por suas personalidades. Por sinal são personalidades comuns, talvez estereotipadas, clichês. Mas o que é digno de nota nas personagens é muito mais seus feitos e reações. É nisso que mora a profundidade deles: uma exibição de personagens que em sua extrema simplicidade são dotados de ações perspicazes, geniais talvez.
Talvez Serena van der Woodsen (Blake Lively) seja uma típica personagem em redenção, mas o caso é que ela é também uma das poucas pessoas que quer ser melhor do que é nessa estória. A maioria das personagens está satisfeita com sua mediocridade ou com algum tipo de superiodidade, seja financeira, seja de personalidade.
Blair Wladorf (Leighton Meester), foi amenizada como diversas outras personagens nessa estória. Dizer que ela é mesquinha, mimada, vingativa, manipuladora é apenas constatar o óbvio... É bom deixar bem claro que a série mantém a retórica de que as pessoas não são completamente boas ou ruins, apenas reagem ao meio e aos outros,lutam por seus interesses. Talvez uma das mais habilidosas competidoras nesse teatros seja Blair...
A lista de personagens tende a crescer demais, como é bem comum nesse tipo de série, então tratemos apenas dos amigos Nate Arquibald (Chace Crawford) e Chuck Bass (Ed Westwick) e dos irmãso Humphrey. Nate é o playboy clássico: bonito, rico, atlético, galanteador. Se ele montasse um cavalo brnaco seria capaz de transar com qualquer mulher em Nova York... Chuck é devasso da estória. O cara não tem escrúpulos, o que pode fazer com que com determinadas intenções as coisas não apreçam tão malignas quanto são...
Blair, Nate e Chuck são as maiores representações de auto-conhecimento da série. Eles não só sabem que são ricos, herdaram não só a fortuna, mas a beleza clássica de suas famílias aristocráticas.
Os irmãos Humphrey são duas vertentes bem distintas de como se comportar quando se está no limiar desse grupo. Dan (Penn Badgley) estaria basicamente não só no limiar, mas também na margem do grupo se não houvesse seu interesse amoroso em Serena. Ele está interessado em coisas maiores, aceita sua realidade, chega a ser chato, mas é bom ter alguém de caráter para equilibrar as coisas, tanto quanto ele agüenta.
Jeeny pode não ter sido tão bem encarnada no corpo de (Taylor Momsem), mas a atriz faz um bom trabalho. Jenny está justamente do outro lado do espectro, no mesmo limiar: quer entrar naquele mundo. É interessante ver até onde ela será capaz de ir... Ainda mais tendo o pai que tem, e principalmente o irmão que tem. Deve ser estranho ter ambições tão distintas das daqueles com quem se importa.
Antes do fim tem de haver um comentário a respeito da Gossip Girl. Ela é apenas a voz de Kristen Bell é a encarnação do que há de pior e mais mesquinho naquele mundinho. A Gossip Girl dos livros é muito pior, mas a censura, digo, classificação etária, está aí para isso. Ela é uma fofoqueira do mundo moderno, com seu blog sobre fofocas daqueles... É a máxima do isolamento desse grupo: um blog que só é lido pelas personagens interessadas. Uma prova que as expectativas e interesses deles, começam e terminam neles mesmo... Egoísta? Talvez isso seja uma constante...
Gossip Girl é basicamente o tipo de estória que não há vilões, pois todos agem e reagem e assim ocorrem as complicações, mas num cenário particular, que é a elite financeira de Nova York, mas se Orange County ainda deu certo, imagina algo de público já formado como Gossip Girl.
XOXO, Eu sei que vocês amam Gossip Girl...
Nenhum comentário:
Postar um comentário